JUROS TIRÂNICOS 5
Na véspera da reunião
do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central do Brasil, dias 19 e
20 de setembro de 2023, o jornal Valor Econômico informou
que o mercado esperava um corte de 0,5% na taxa Selic. Ao final da reunião, na
quarta dia 20, não foi surpresa que fosse esse o corte na taxa de juros. Por
dois motivos, em primeiro lugar o mercado no dia anterior sinalizava acordo com
o percentual, pois das 140 instituições financeiras ouvidas em levantamento
promovido pelo jornal, 139 concordaram que este
deveria ser o percentual de queda; em segundo lugar, o próprio comitê
em sua ata anterior havia antecipado que poderia prosseguir com uma redução de
meio ponto percentual.
A Ata da 257ª reunião do Copom não difere em termos das atas anteriores. Adota um tom sóbrio ao se referir aos problemas econômicos das duas locomotivas da economia mundial: “O Comitê notou a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento da China.” Ambas as constatações não são novidade, pois os sinais em ambos os países já eram de conhecimento público. Os EUA necessitam captar dinheiro e a China (mas também nenhum outro país) consegue manter um ritmo de crescimento em contínua progressão. A redução do nível de atividade econômica da China decorre de seu mercado interno, em alguns segmentos já saturado, mas também de uma retomada mais lenta do mercado mundial no pós pandemia.
No contexto nacional a Ata observa que o consumo das famílias é um dos responsáveis pelo crescimento econômico do país, tanto em função dos programas de distribuição de renda como de um mercado de trabalho ativo. Antes da reunião do Copom o Relatório Focus de 18 de setembro de 2023 projetava um crescimento do PIB em 2023 de 2,89% tendo em vista que o PIB no primeiro e segundo trimestres deste ano surpreenderam, 1,9% e 0,9% respectivamente. O forte desempenho do agronegócio no primeiro trimestre de 2023 (compensando o desempenho negativo em 2022 com uma retração de 1,7%) e as expectativas abertas pelas reformas regulatórias (arcabouço fiscal e tributária) foram citados como pontos que alimentam expectativas futuras de um bom desempenho da economia.
A queda da inflação, argumento central para a redução da taxa de juros, foi avaliada em uma dinâmica dividida em dois estágios. Em um primeiro notou-se uma diminuição dos preços de alimentos e industriais. Em um segundo estágio a desaceleração alcançou os preços de serviços. Foi com base nesse cenário que o Copom decidiu por abater 0,5% na taxa básica de juros, reduzindo-a para 12,75% ao ano.
A decisão foi unânime. Porém, o problema possui outro caráter. De um lado a gestão Lula 3 continua focada na estabilidade das contas públicas em tom de austeridade, secundarizando outros aspectos impulsionadores da economia, em particular a reativação industrial. E de outro lado a ênfase do Comitê em perseguir a meta de inflação se coloca como o maior obstáculo para o setor fabril, justificada nos seguintes termos: “(...) a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.” Essa obsessão, que reflete o poder do rentismo em preservar seus lucros, deve ser substituída pelos interesses populares por emprego e investimentos públicos em serviços sociais.