É natural que governo e especuladores estejam tomados de euforia diante do anúncio do PIB do primeiro trimestre de 2023. Ambos vivem de ilusões. Para se entender os 1,9% de crescimento se comparado ao quarto trimestre de 2022 , atribuídos em sua quase totalidade ao desempenho da agropecuária, basta olhar para o comportamento da economia rural em 2022. A tabela 1 abaixo vislumbra os dados (Contas Nacionais Trimestrais - Indicadores de Volume e Valores Correntes, Jan-Mar 2023. IBGE 01.06.23). Diante de um 2022 difícil em função de impactos ambientais a produção foi ruim nos quatro trimestres do ano passado. Tomando por base o volume trimestral observamos que a produção diminuiu em cada um deles. No quarto e último trimestre de 2022 o volume de produção foi o menor – a metade do produzido no primeiro trimestre. Portanto, não constitui surpresa que neste primeiro trimestre de 2023 o PIB do setor escale altura.
tabela 1 |
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SÉRIE ENCADEADA DO ÍNDICE DE VOLUME TRIMESTRAL |
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Média de 1995 = 100 |
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Período |
AGROPECUÁRIA |
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2022.I |
300,5 |
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2022.II |
268,2 |
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2022.III |
213,0 |
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2022.IV |
149,9 |
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fonte: ibge |
A tabela 2 permite enxergar o rendimento, tanto do
setor agropecuário, como dos demais. Ela apresenta os números revisados do PIB trimestre
contra trimestre de 2022. Nela o desempenho do PIB Total foi baixo e no quarto
trimestre de 2022 foi negativo. O PIB da agropecuária foi negativo nos quatro
trimestres do ano.
O resultado do primeiro trimestre de 2023 está
concentrado em um segmento cujo comportamento ao longo de 2022 esteve deprimido
por problemas climáticos, apesar do ufanismo do setor que havia anunciado para
2022 uma safra recorde. Estávamos em ano eleitoral e o setor possuía um candidato
próprio à presidência.
tabela 2 |
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TRIMESTRE CONTRA TRIMESTRE IMEDIATAMENTE ANTERIOR
(%) |
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Com ajuste sazonal |
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Período |
AGROPECUÁRIA |
INDUSTRIA |
SERVIÇOS |
PIB TOTAL |
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2022.I |
-0,1 |
0,8 |
1,0 |
1,0 |
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2022.II |
-0,5 |
1,6 |
1,2 |
1,1 |
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2022.III |
-1,1 |
0,6 |
0,9 |
0,5 |
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2022.IV |
-0,9 |
-0,3 |
0,2 |
-0,1 |
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2023.I |
21,6 |
-0,1 |
0,6 |
1,9 |
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fonte: ibge |
Ressaltamos que o agronegócio é um mito pelos seguintes
aspectos: 1) não possui empreendedorismo, os avanços científicos do campo
brasileiro decorrem das pesquisas patrocinadas pela Embrapa, uma estatal; 2) possui privilégios oriundos da Lei Kandir
que os isenta de tributação; 3) é favorecido por uma taxa de câmbio que barateia
a exportação ao desvalorizar a moeda nacional em favor do dólar, 4) não é o responsável
por abastecer a mesa dos trabalhadores, pois 70% da produção de alimentos da
cesta básica do brasileiro é produzida pela agricultura familiar e 5) despreza a agroecologia. Independente disso
a bancada ruralista no Congresso Nacional vai com arrogância defender o setor
como o mais dinâmico da economia, cobrar do governo uma postura de repressão às
lutas camponesas e maiores benefícios.
Preocupa o fato de a participação da indústria na economia
nacional continuar em queda, recuou 0,1% neste primeiro trimestre, cf. tabela 2.
Cifra que poderia ser desprezada se o dado não representasse a diminuição
progressiva do setor no PIB do país. Outro dado que chama a atenção sobre o setor
industrial é a denominada Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF (o que significa:
produção de máquinas e ferramentas) que regrediu em 3,4%. Ou seja, o país além
de não estar investindo em bens de produção não está repondo e dando manutenção
nas suas máquinas e ferramentas.
Em função da divulgação dos números contidos na tabela
2 há uma corrida por novas estimativas do PIB para 2023. Muitas delas ampliando
seu crescimento. Esse movimento não é do agrado do Banco Central que enxerga no
crescimento econômico um perigo inflacionário. Os rentistas do capital
argumentam que isso aquece a demanda, puxa o nível de emprego para cima e desequilibrada
as contas públicas. O Boletim Focus, publicado pelo Banco Central, mas que traz
as expectativas de mercado, projeta em sua edição de 26 de maio de 2023 um
crescimento do PIB para este ano de 1,26%. Diante dos novos números alguns analistas
do mercado financeiro acreditam que o PIB poderá crescer o dobro, chegando a
2,6%. Caso o Banco Central insista em garantir sua projeção, além de manter ou
elevar a taxa Selic, poderá promover uma recessão induzindo o PIB trimestral a
cair nos próximos trimestres do ano.
Devemos lembrar que esses números podem ser revisados
para cima ou para baixo. Temos certeza de que deverão passar por retificação. Esperamos
que não sejam piores do que os atuais. Como os dados numéricos podem ser
manipulados ao sabor das conveniências o
portal do IBGE, para fazer propaganda governamental, informa que o PIB do primeiro
trimestre de 2023 é de 3,3% no acumulado em quatro trimestres. Os números permitirão
as mais diversas leituras. Importa, porém, algumas conclusões. A condição
recessiva da economia não foi contida, indústria e serviços tiveram um desempenho
aquém do esperado para alavancar salário e emprego.
O produto interno bruto é o principal indicador do nível
de atividade econômica de um país, mede a produção de bens e serviços. Mede seu
enriquecimento ou empobrecimento. Para teóricos do neoliberalismo chega a ser
considerado um indicador de felicidade de um povo. Em termos relativos a
publicação de seus dados em percentuais mede o nível de atividade econômica. Em
termos monetários informa o valor de mercado dos bens e serviços produzidos no país.
Sobre a distribuição das riquezas produzidas pelos trabalhadores não oferece o
dado mais importante que seria a taxa de exploração sobre os trabalhadores. Deste
modo, sem uma orientação para os interesses de classe dos trabalhadores o
crescimento do PIB, além de não mudar a vida, perpetua as desigualdades.