DEMITIR CAMPOS NETO E A
DIRETORIA DO BANCO CENTRAL
O que está em jogo em cada ponto percentual a mais ou a menos na
taxa de juros estabelecida pelo Banco Central do Brasil (BC)? Cada ponto
percentual na taxa de juros equivale a R$35 bilhões por ano. Significa que se a
taxa básica de juros sobe, sobe o gasto com a dívida pública. Por isso, é de
enorme interesse dos trabalhadores que a taxa seja a mais baixa possível,
preferencialmente próxima de zero, como em alguns países, na Suíça 1%, Zona do
Euro 3% e Reino Unido 4%. Por esse e tantos outros motivos, os trabalhadores
necessitam se apropriar dos conhecimentos econômicos. Embora seja difícil
decifrar o palavreado - propositalmente rebuscado - do economês praticado pelos
analistas e jornalistas de economia. Além da linguagem obscura, é preciso
entender que por princípio, tais analistas e jornalistas tem sua opinião
vendida, pois são pagos pelos banqueiros e rentistas, daí veicularem opiniões
compradas pelo sistema financeiro. Por meio de malabarismos de linguagem adotam
argumentos mentirosos e falsos. Vez ou outra, enxertam alguma fórmula
matemática para conferir ares de ciência e são apresentados como especialistas
e portadores de pontos de vista independentes.
AUTONOMIA
Por ocasião da sanção da Lei Complementar 179/2021 que concedeu
autonomia ao Banco Central, PT e PSOL entraram no Supremo Tribunal Federal
alegando inconstitucionalidade. O argumento era tosco: vício de iniciativa.
Para os dois partidos a proposta deveria ter sido originada por decisão do
Presidente da República, ao invés de um senador, Plínio Valério (PSDB –
AM). Ela estabelece a autonomia do BC e não sua independência,
apesar da referência a ambas pela imprensa. Seria independente se ele
determinasse a meta da inflação. Como ela é definida pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN) o que a lei sobre o BC conferiu foi a autonomia do banco para
perseguir a meta de inflação que para 2023 está prevista em 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5% para
cima ou para baixo.
O principal aspecto da dita autonomia é a desconexão de mandatos:
somente no meio do mandato do Presidente da República é que será trocado o
presidente do BC e em regime escalonado seus diretores, todos indicados pelo
Presidente da República e nomeados somente após aprovação pelo Senado. Em seu
artigo primeiro a referida lei define os objetivos do banco: “zelar pela
estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do
nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”. A mídia comprada,
banqueiros, rentistas e a própria diretoria do BC estão dando ênfase apenas na
questão da estabilidade de preços, ignorando a dinâmica econômica e a questão
do emprego.
Por ocasião da primeira reunião, neste ano e
neste governo, do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do
Brasil, presidido por Roberto Campos Neto, que define a taxa básica de juros da
economia, chamada de taxa SELIC (Sistema
Especial de Liquidação e de Custódia), dias 31
de janeiro e 1º de fevereiro de 2023 a decisão foi por mantê-la em 13,75 % ao
ano. A maior taxa básica de juros do mundo.
AS REAÇÕES
Na condição de Presidente da República, Lula
reagiu com espanto ao fato de que foi mantida, ao invés de reduzida, a taxa de
juros. Dentre os especuladores a manutenção da taxa foi bem recebida. Lula de
viva voz passou a questionar sua manutenção, sem viés de baixa, e o desprezo
com a economia e o emprego.
Desde então, uma sórdida campanha foi deflagrada
pela mídia corporativa. A mesma que elegeu Bolsonaro em 2018. Para exemplificar a postura antipopular e alinhada desses grandes
jornais com o capital financeiro, selecionamos trechos de seus respectivos
editoriais todos eles publicados dia 8 de fevereiro de 2023 com o propósito de
desmoralizar o governo com pseudoargumentos.
A Folha de S. Paulo afirmou que: “O populismo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), embora não
ameace a democracia como o do seu antecessor, coloca em risco o crescimento da
renda e do emprego de dezenas de milhões de brasileiros.” Pelo contrário a renda e o emprego estão
ameaçados de morte com a política de juros do BC. Para O Estado de S. Paulo
“(...) Lula boicota seu próprio governo e prejudica aqueles que ele
tanto diz ajudar”. É o BC que prejudica a população, neste caso, a vítima
virou réu, Lula estaria dando um tiro no pé. O Globo inverte a
relação bandido - mocinho: “Declarações desastradas de Lula tentando
atribuir ao BC uma responsabilidade que é dele em nada contribuem para
dissipá-la”. O jornal de finanças Valor
Econômico considera que “Lula
desmoraliza a autoridade monetária, sem definir qual será sua política fiscal,
deixando entrever que seu programa é a gastança”.
Investimentos e programas sociais são gastança. O ponto de vista que defendem é
o mesmo de Paulo Guedes.
As recentes declarações de Lula criticando o Banco Central, seu
presidente Campos Neto, a autonomia da instituição e a manutenção da taxa de
juros é apresentada pelos agentes do rentismo como prejudiciais à economia; quando
são, na verdade, sua legítima defesa.
Os impostores da mídia corporativa - banqueiros e rentistas – se
interessam sempre pela instalação do pânico. Quanto maior as incertezas, o
imprevisível, as oscilações da Bolsa de Valores e do câmbio - melhor para eles.
A cada oscilação no volume de transações na Bolsa de Valores, a cada queda ou
subida na cotação do dólar, um punhado de especuladores ganha e outro perde. No
entanto, os grandes especuladores sempre ganham, seja nas quedas, seja nas
subidas.
A ATA DO COPOM
Dia 7 de fevereiro o Copom divulgou a ata da reunião
em que decidiu por manter a taxa em 13,75%. Destacaremos alguns de seus
argumentos. A ata começa passando em revista a conjuntura internacional. Caracteriza o cenário econômico global como de baixo potencial de
crescimento e com desafio de moderar o avanço da inflação. Para os EUA aponta
uma tendência à desaceleração, e que em muitos países, as pressões
inflacionárias criam um ambiente desfavorável ao crescimento, sugerindo que
poderá ocorrer um desaquecimento. Essa avaliação é comum ao Banco Mundial e ao
FMI. Ambos reconhecem os limites da economia mundial neste ano de 2023.
O
problema reside no âmbito doméstico. Para a nossa realidade a diretoria
colegiada do Banco Central caracteriza que a política fiscal do governo Lula 3
possui caráter expansionista, ou seja, pretende promover gastos sociais e de
investimentos que serão responsáveis por pressionar “a demanda agregada ao
longo do horizonte de projeções, ou a possibilidade de alteração das metas de
inflação ora definidas” (Ata do Comitê de Política Monetária, 252º Reunião
31.01 – 01.02.23). Demanda
agregada que pode ser traduzida por consumo, no caso, de produtos essenciais
para a vida do trabalhador. Na ata reconhece de que a instituição vai atuar
contra dois de seus objetivos elencados na lei que conferiu autonomia ao banco –
o nível de atividade econômica e o emprego – ao afirmar que: “O conjunto de dados divulgados, incluindo
a queda dos indicadores de confiança e a desaceleração observada nas concessões
de crédito, junto com os efeitos defasados da política monetária, reforçam a
expectativa do Comitê de desaceleração do ritmo da atividade econômica, que
deve se acentuar nos próximos trimestres.”
(Ata ...) Isto é, os membros do Copom para garantir que a meta de inflação seja
cumprida ou dela se aproxime estão dispostos a promover o desemprego e reduzir
a atividade econômica. Pretendem ampliar a miséria para garantir a remuneração
da plutocracia do sistema financeiro: “Nesse sentido, alguns membros
ressaltaram que a desaceleração deve prosseguir e é necessária para que os
canais de política monetária atuem e ocorra a convergência da inflação para
suas metas.” (Ata ...) Dentre os
fatores de risco para o futuro do país aponta que há: “(...) ainda elevada
incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais que
implicam sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas
expectativas de inflação e nos preços de ativos (...)” (Ata ...). Arcabouço
fiscal que é a nova denominação para o antigo teto de gastos, tanto um como
outro estão em função de gerar fundos para remunerar a dívida pública. E em tom
de ameaça, para que a meta da inflação seja alcançada, promete “(...)
um aperto monetário mais prolongado (...)” (Ata ...). Isso significa que o
compromisso dos gestores do Banco Central é aumentar continuamente a taxa de
juros.
A LEI ESTÁ DO
LADO
Os termos defendidos na ata revelam a incompatibilidade
do presidente Campos Neto e todos os demais diretores do BC com a realidade do
país, que necessita de medidas urgentes de estímulo ao emprego, à distribuição
de renda e ao crescimento econômico.
A política de elevação dos juros visa dois objetivos: 1) garantir
a remuneração do capital financeiro em alto nível e 2) sob a alegação de que
controla a espiral de preços e salários (inflação,) promover a desaceleração da
economia, gerando desaquecimento da demanda ampliando a miséria e o desemprego. Esse último aspecto é central, visto que, enfraquece o poder de barganha dos
trabalhadores com a patronal.
Sendo assim, é fazer valer a letra da Lei Complementar 179/2021
que sanciona em seu Artigo 5º, inciso IV (em sequência): “O Presidente e os
Diretores do Banco Central do Brasil serão exonerados pelo Presidente da
República: IV - quando apresentarem comprovado e recorrente desempenho
insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central do Brasil". Está posto! Não há acordo. Em 2022, Campos Neto
e sua diretoria não cumpriram com a meta da inflação e para 2023 relatam que
irão promover recessão. É uma prerrogativa que o presidente possui, que ele
faça uso. Para os súditos do capital, demissão já!