12/01/23

 

APOTEOSE NEGACIONISTA

 

Era para ser um post sobre a nova política econômica do governo Lula 3, no entanto, os fatos políticos se sobrepõem. A festa durou pouco. Na semana de 2 a 6 de janeiro, de segunda a sexta, os discursos poéticos e humanitários, alguns até patéticos, caíram no vazio diante da manifestação de bolsonaristas em Brasília, domingo dia 8 de janeiro de 2023. Sobre eles é possível tirar conclusões políticas claras e quase certeiras. Apesar do calor da hora não será necessário aguardar a finalização dos inquéritos. Alguns irão se estender até cair em prescrição para livrar as elites políticas, militares e patronais envolvidas, e outros irão punir somente os vulgos “pé de chinelo” para mais uma vez incriminar somente os desfavorecidos. 

 

Conclusão 1: sabotagem

 

Os comandantes das forças policiais do Governo do Distrito Federal (GDF) tinham conhecimento da chegada e da intenção das caravanas de bolsonaristas à Brasília. Desnecessário serviço de inteligência para monitoramento já que nas redes sociais estava anunciado que a passeata pretendia chegar à Praça dos Três Poderes com ameaça de invasão das dependências físicas e depredação do patrimônio público. O Exército Brasileiro (EB) possui dois batalhões específicos nas dependências do Palácio do Planalto, o Regimento de Cavalaria de Guarda e o Batalhão da Guarda Presidencial; ambos são responsáveis pela proteção do prédio presidencial e respondem ao Comando Militar do Planalto. Os respectivos responsáveis do Governo do Distrito Federal, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), do Ministério da Defesa, a quem o Exército Brasileiro se subordina, prevaricaram. Em tese, por meio de processos administrativos, devem ser disciplinados e deveriam ser demitidos e os funcionários de carreira exonerados do serviço público. A cumplicidade dos referidos órgãos é notória. Dispensa delongas. Provar a participação ativa dos setores é tarefa investigativa que perdura no tempo. Na morosidade do judiciário, a década já estará finda. Sem constrangimento o que ocorreu pode ser classificado como o primeiro ato de sabotagem contra o governo parido no interior das instituições do Estado e do próprio governo.

Em relação ao segmento das Forças Armadas, o PT, em suas gestões, não soube definir uma conduta positiva, a começar pela negativa em investigar os crimes do ciclo militar (1964 -1985), logo de início em 2003. A Comissão Nacional da Verdade só foi criada em 2011, Dilma 1. Desde o início do ciclo civil em 1985 até 2004, os militares estiveram confinados à caserna. Nem mesmo por ocasião da crise política que resultou no Fora Collor em 1992 provocaram algum embaraço.  Foi somente em 2004, gestão Lula 1, com a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) sob comando brasileiro que o exército recuperou o papel político perdido desde o fim do ciclo militar em 1985. Entre 2010 e 2012, gestão Lula 2 e Dilma 1, foi a vez de atuação em território nacional com a chamada operação Arcanjo de Pacificação do Complexo do Alemão, realizada pelo Exército Brasileiro. Posteriormente no final de março de 2014, 3 meses antes da Copa, o exército iniciou ocupação das favelas Complexo da Maré, ainda na gestão Dilma 1, em flagrante desacordo com sua finalidade constitucional de defesa da pátria e não de polícia. Esses três fatos alçaram as Forças Armadas a um plano político que lhes permitiu emergir como alternativa à combinação da crise econômica, social e política que assolava o país. Em abril de 2018 intimidaram o Supremo Tribunal Federal por ocasião da votação do Habeas Corpus de Lula para não ser preso, nas eleições se aliaram com Bolsonaro e como resultado aparelharam o Estado em benefício próprio.  

 

Conclusão 2: uma tentativa de golpe

 

Com base na experiência histórica e no rigor conceitual, a invasão dos prédios e palácios em Brasília não foi um golpe de Estado. Faltou o destacamento militar que invade, ocupa, destituí o governo e se autodeclara governante, transfere ou concede o exercício do poder a quem couber. Não havia uma força real armada. Nesse aspecto reside dúvida se nos próximos eventos, numa tentativa real de golpe, os militares assumirão a linha de frente ou delegarão às bases milicianas. O objetivo foi causar um curto-circuito no governo e paralisá-lo. Talvez sincronizar com levantes nos acampamentos estaduais.  Um ensaio geral que ao instalar o caos poderia prosseguir em ações sucessivas fomentando as condições de um triunfo final. Não se deve subestimar o movimento bolsonarista. A crise institucional é grave e indica que será longa, o que deve implicar resistência tenaz. 

Na sombra estava o mercado financeiro. Diante dos fatos havia expectativa de como reagiriam. A resposta foi a mais absoluta normalidade, o dólar variou 0,41% e a Bolsa de Valores 0,15% ambos para cima. Se alguém apostou em queda acentuada da Bolsa e dólar em alta, em função dos acontecimentos de Brasília no dia anterior, frustrou-se. O que isso significa? Significa que o mercado encarou com tranquilidade a ação golpista contra o governo Lula 3 no sentido de emparedá-lo e torná-lo refém da agiotagem financeira. Apesar das declarações de repúdio aos atos de domingo, todas elas formais e protocolares e mentirosas, pois os especuladores apostam no caos para dele ampliar sua margem de lucro e permanente chantagem. O sistema financeiro olha para este breve século XXI e constata que desde seu início o PT hegemoniza as eleições, das 6 disputas o PT venceu em 5:  2002 e 2006 com Lula, 2010 e 2014 com Dilma e 2022 com Lula novamente. O ponto fora da curva foi 2018 com Bolsonaro sagrado vitorioso com a impugnação da candidatura Lula e fraude nas redes sociais. Banqueiros na última hora, dado o naufrágio da terceira via nas eleições de 22, de modo contrariado aderiram à candidatura de Lula. Em seu conjunto conspiram para que vigore a anarquia da especulação a fim de obter vantagens. Seria ingenuidade desmerecer o caráter dos banqueiros: conspiradores, dissimulados, hipócritas, articuladores manhosos de fala mansa e sádicos, insaciáveis na sanha por lucros e desumanos. 

 

Conclusão 3: falta de comando político do governo

 

As manifestações ocorridas dia 12 de dezembro de 2022, ocasião em que Lula foi diplomado como vitorioso nas eleições sinalizou que não existe acordo em reconhecer a derrota eleitoral do adversário, Bolsonaro. Os acampamentos em frente aos quarteis do EB, que são áreas de segurança, desde logo após o segundo turno, com a plena conivência do oficialato, evidenciavam que não se tratava de movimento espontâneo, mas previamente agendado e organizado. O governo não deve terceirizar a culpa e responsabilidade pelos atos de domingo. As redes sociais anunciavam o que estava previsto e o que viria a acontecer. Em tese, a direção política do país pertence ao governo, Lula e seus ministros. Cochilaram no poder. O segmento de ministros políticos tinha por tarefa acompanhar os desdobramentos e salvaguardar o governo. Também prevaricaram. Lembremos que a semana foi encerrada com a primeira reunião ministerial, sexta dia 6, sob o encanto da festa da posse, com todos envolvidos em prorrogar indefinidamente o clima festivo e comemorativo do retorno de Lula ao poder, ao invés de tomar medidas junto à inteligência e ações governamentais concretas. Acreditaram em pacificação e desconsideram que a sociedade brasileira está fraturada, dividida ao meio. Importa, porém, saber se esse governo será capaz de se autodefender. A frente ampla – Lula, partidos coligados, grande imprensa, setores da patronal – podem, neste momento, se aliarem. Inocência acreditar que descartar Bolsonaro resolve o problema. O bolsonarismo, a direita e principalmente os interesses imperiais de Washington continuarão a malhar o governo. Entrincheirado, o governo Lula 3 tem pouco tempo para definir sua estratégia de sobrevivência. Caso contrário irá sangrar até 2026 e pior que isso será sangrar os trabalhadores do campo e da cidade.

 

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