23/10/25

 

TAXA SELIC E O MERCADO DE TRABALHO

 

Embora tenha sido apresentado como um “garoto de ouro”, Gabriel Galípolo na presidência do BC pesa como chumbo. A prosseguir nessa rota vai levar o governo ao fundo do poço. Lula não é Midas. Nem tudo que reluz é ouro.  A escolha dele e a manutenção da atual política monetária tem se mostrado prejudicial à economia nacional. Diante dos fatos, a lembrança do vídeo de Lula, ao lado dos ministros da área econômica e com o atual presidente do BC, dia 20 de dezembro de 2024, apresentando-o como “o mais importante presidente do BC que este país já teve”, é desonroso.

À frente das decisões adotadas pelos atuais gestores da política monetária surge um questionamento: quais os compromissos que o governo esperava e quais o presidente Lula assumiu por ocasião do processo de escolha deles? Essa gestão debocha do governo, dos empresários e principalmente dos trabalhadores. Prova disso está em recente publicação do jornal Valor Econômico, dia 10 de outubro de 2025, em que Nilton David, diretor de política monetária do BC, informou:  o Copom cogitou elevar a taxa Selic para acima dos atuais 15%, “(...) mas, no fim, decidiu mantê-los nesse patamar por um período prolongado para cumprir a meta de inflação”. Questionado sobre quais seriam os indicadores para iniciar uma queda dos juros ressalvou que o Copom não aguardará o desmonte do mercado de trabalho: “Esperar isso acontecer para tomar uma decisão não me parece ser a condição ideal”. Isto é: em sua política monetária o BC monitora o mercado de trabalho e ao se verificar que ele absorve uma mão de obra sedenta por renda para suas necessidades básicas atua para deprimi-lo. É o desemprego/desocupação refletindo o desmonte da economia nacional. É deplorável que a visão civilizatória dos rentistas seja essa.

Há muito o BC justifica que o mercado de trabalho segue aquecido, operando “além do pleno emprego”. Em carta aberta sobre o descumprimento da meta de inflação dirigida ao ministro da Fazenda, datada de 10 de julho e assinada por Galípolo, está dito: “Os indicadores do mercado de trabalho e de utilização da capacidade instalada mostraram força maior do que o esperado”. O que deveria ser interpretado como positivo é visto como negativo. É a mesma política de Campos Neto.

Sobre o mercado de trabalho no Brasil vale ressaltar dois aspectos. Primeiro: o IBGE divulga taxa de ocupação/desocupação e não de emprego/desemprego, essa última reflete contratos formais de trabalho. Na base de cálculo da taxa de ocupação/desocupação enumera-se todo aquele que na semana anterior trabalhou ao menos uma hora, como explicado em nota metodológica da PNAD. Isso significa que o dito pleno emprego alegado pelo BC considera todo e qualquer tipo de trabalho informal, inclusive aqueles remunerados com mercadorias e/ou benefícios.  Essa ideia de aquecimento do mercado de trabalho deve ser traduzida como ampliação da pobreza, pois é o caminho forçado de pais e filhos a saírem catando latinha para garantir a sobrevivência. Segundo: é desnecessário frisar que o nível de remuneração do trabalho no Brasil segue baixíssimo, o que induz a que em muitas famílias todos sejam obrigados a trabalhar algumas horas por semana para ampliar a renda. É isso que o BC considera pleno emprego.

De acordo com boletim de estatísticas fiscais do BC divulgado dia 30 de setembro, o acumulado em doze meses de gastos com a dívida pública chegou a R$ 946,5 bilhões. Consideramos um flagelo o fato de estarmos às vésperas do final do ano e na iminência de batermos o recorde de pagar R$ 1 trilhão em juros da dívida. Uma obscenidade.

Neste mundo de disrupções cognitivas ainda há seguidores do governo que elogiam a atual gestão do banco como positiva ao apresentar dados que direcionam para se alcançar a meta, ao menos em sua banda superior de 4,5% ao ano. Elabora-se toda uma argumentação alicerçada em premissas frágeis, mas proferidas como sabedoria. São cabeças de planilha que enxergam números, mas não leem a realidade. Não entendem que o Conselho Monetário Nacional excedeu os justos limites ao determinar uma meta inflacionária de 3%. A próxima reunião do Copom no início de novembro, ao invés de prolongar a agonia, deve promover um tombo na taxa Selic, tendo em conta que o tempo já passou.

 

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