TAXA
SELIC E O MERCADO DE TRABALHO
Embora
tenha sido apresentado como um “garoto de ouro”, Gabriel Galípolo na
presidência do BC pesa como chumbo. A prosseguir nessa rota vai levar o governo
ao fundo do poço. Lula não é Midas. Nem tudo que reluz é ouro. A escolha
dele e a manutenção da atual política monetária tem se mostrado prejudicial à
economia nacional. Diante dos fatos, a lembrança do vídeo de Lula, ao lado dos
ministros da área econômica e com o atual presidente do BC, dia 20 de dezembro
de 2024, apresentando-o como “o mais importante presidente do BC que este país
já teve”, é desonroso.
À
frente das decisões adotadas pelos atuais gestores da política monetária surge
um questionamento: quais os compromissos que o governo esperava e quais o
presidente Lula assumiu por ocasião do processo de escolha deles? Essa gestão
debocha do governo, dos empresários e principalmente dos trabalhadores. Prova
disso está em recente publicação do jornal Valor Econômico, dia 10 de outubro
de 2025, em que Nilton David, diretor de política monetária do BC, informou:
o Copom cogitou elevar a taxa Selic para acima dos atuais 15%, “(...)
mas, no fim, decidiu mantê-los nesse patamar por um período prolongado para
cumprir a meta de inflação”. Questionado sobre quais seriam os indicadores para
iniciar uma queda dos juros ressalvou que o Copom não aguardará o desmonte do
mercado de trabalho: “Esperar isso acontecer para tomar uma decisão não me
parece ser a condição ideal”. Isto é: em sua política monetária o BC monitora o
mercado de trabalho e ao se verificar que ele absorve uma mão de obra sedenta
por renda para suas necessidades básicas atua para deprimi-lo. É o
desemprego/desocupação refletindo o desmonte da economia nacional. É deplorável
que a visão civilizatória dos rentistas seja essa.
Há
muito o BC justifica que o mercado de trabalho segue aquecido, operando “além
do pleno emprego”. Em carta aberta sobre o descumprimento da meta de inflação
dirigida ao ministro da Fazenda, datada de 10 de julho e assinada por Galípolo,
está dito: “Os indicadores do mercado de trabalho e de utilização da capacidade
instalada mostraram força maior do que o esperado”. O que deveria ser
interpretado como positivo é visto como negativo. É a mesma política de Campos
Neto.
Sobre
o mercado de trabalho no Brasil vale ressaltar dois aspectos. Primeiro: o IBGE
divulga taxa de ocupação/desocupação e não de emprego/desemprego, essa última
reflete contratos formais de trabalho. Na base de cálculo da taxa de
ocupação/desocupação enumera-se todo aquele que na semana anterior trabalhou ao
menos uma hora, como explicado em nota metodológica da PNAD. Isso significa que
o dito pleno emprego alegado pelo BC considera todo e qualquer tipo de trabalho
informal, inclusive aqueles remunerados com mercadorias e/ou benefícios.
Essa ideia de aquecimento do mercado de trabalho deve ser traduzida como
ampliação da pobreza, pois é o caminho forçado de pais e filhos a saírem
catando latinha para garantir a sobrevivência. Segundo: é desnecessário frisar
que o nível de remuneração do trabalho no Brasil segue baixíssimo, o que induz
a que em muitas famílias todos sejam obrigados a trabalhar algumas horas por
semana para ampliar a renda. É isso que o BC considera pleno emprego.
De
acordo com boletim de estatísticas fiscais do BC divulgado dia 30 de setembro,
o acumulado em doze meses de gastos com a dívida pública chegou a R$ 946,5
bilhões. Consideramos um flagelo o fato de estarmos às vésperas do final do ano
e na iminência de batermos o recorde de pagar R$ 1 trilhão em juros da dívida.
Uma obscenidade.
Neste
mundo de disrupções cognitivas ainda há seguidores do governo que elogiam a
atual gestão do banco como positiva ao apresentar dados que direcionam para se
alcançar a meta, ao menos em sua banda superior de 4,5% ao ano. Elabora-se toda
uma argumentação alicerçada em premissas frágeis, mas proferidas como
sabedoria. São cabeças de planilha que enxergam números, mas não leem a
realidade. Não entendem que o Conselho Monetário Nacional excedeu os justos
limites ao determinar uma meta inflacionária de 3%. A próxima reunião do Copom
no início de novembro, ao invés de prolongar a agonia, deve promover um tombo
na taxa Selic, tendo em conta que o tempo já passou.