GALÍPOLO NO
BANCO CENTRAL E NO CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL
Galípolo como novo presidente do
Banco Central (BC) não terá tempo nem uma segunda chance, deve em sua primeira
reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para 28 e 29 de
janeiro, retomar a tendência de queda da taxa Selic. É crucial sinalizar que se
trata de uma nova gestão. Campos Neto está fora da presidência do BC. A
composição da maioria da atual diretoria do banco já é de indicação do atual
governo. Não há obstáculo administrativo que impeça o início de um giro na
política monetária. Um balanço da gestão passada pode ficar para a história.
Agora chegou o momento de escrever uma nova.
Metade da gestão Lula 3 se foi. Há
uma segunda metade que é possível ser diferente. O terceiro ano do mandato não
pode gastar mais de um trilhão de reais com a dívida pública. E com a taxa
Selic já contratada a 14,25% ao ano a corrida de empresas por pedidos de
recuperação judicial e extrajudicial é uma possiblidade crível. Lamentavelmente
esse cenário é o que está colocado pelo primeiro Boletim Focus de 2025 ao
projetar a taxa Selic em 15% ao final deste ano.
Diante de um sistema econômico
parasitando na especulação de papeis, o pânico, para não falar em terrorismo
financeiro, é uma artimanha para arrancar lucros. Afirmações ao estilo “a dívida pública segue
trajetória explosiva, os gastos idem, a inflação é desesperadora”, não
correspondem aos indicadores econômicos analisados a frio. Ao contrário, nós
que não somos negacionistas, ao decompormos a inflação somos obrigados a
reconhecer que as mudanças climáticas possuem um componente inflacionário: é o
excesso de chuva ou seca prolongada que quebram safras, é o baixo nível dos
reservatórios das hidrelétricas que eleva o preço da energia, é o gasto com a
compra de condicionar de ar (para sobreviver e não por luxo) que sobe a demanda
de bens de industriais e assim por diante. É o imponderável na vida e na
economia.
No mês de dezembro de 2024
especuladores nacionais e internacionais promoveram um ataque à moeda
brasileira e aos interesses populares. O que obrigou o BC a liquidar mais de 30
bilhões de dólares das reservas cambiais. Convertendo para real, cotado a 6 por
dólar, o governou liquidou 180 bilhões de reais em apenas um mês. O mercado
ficou desgostoso com a “timidez” do pacote de cortes que manteve os pisos
constitucionais da saúde e educação. A promessa inicial das medidas anunciadas
pelo ministério da Fazenda ao final de novembro era de economizar 326,9 bilhões
de reais de 2025 a 2030. Com os leilões de dólares em um mês gastou-se a metade
de toda a economia prevista com as medidas. O anúncio dos cortes não foi
somente um erro de comunicação como também uma iniciativa errada.
O pânico construído pelo mercado,
forma de alavancar seus ganhos, não deve ser combatido com declarações de boa
fé dos gestores públicos, mas com medidas concretas que estabeleçam o controle
das rédeas da economia.
Adentramos 2025 com o dólar acima de
seis reais o que se constitui na principal ameaça à estabilidade dos preços
neste início de ano. O governo possui meios de orientar a economia. Uma certa
permissividade na gestão do câmbio em dezembro para saciar a voracidade do
mercado deixará uma herança inflacionária ao longo de 2025. A nova diretoria do
BC deve atuar com pulso e sem comprometer nossas reservas cambiais, que somavam
355,034 bilhões de dólares (valor bruto) no final de 2023, mas que dia 20 de
dezembro de 2024 possuía um saldo líquido de 242,532 bilhões de dólares,
112,502 bilhões a menos em um ano.
Outro passo deve ser demolir as
falácias do mercado. A iminência do risco de uma dominância fiscal se instalar
no Brasil deve ser afastada pois não há fundamentos que sustentem essa
hipótese, desde que a taxa de juros comece a entrar em queda. A possibilidade
de uma recorrente elevação da taxa Selic combinada a um descontrole
inflacionário é imaginária. A dívida pública do país não está fora de controle,
pois segue abaixo na relação dívida/PIB se comparada com a do Japão 252%,
Itália 132% e EUA 122%. Para novembro de 2024 a brasileira estava em 77,7%. E a
inflação, também, não está fora de controle. A sua meta é que está em um
patamar descabido, de 3% ao ano. Compete ao Conselho Monetário Nacional (CMN)
rever a meta, pois agora sai Campos Neto e entra Galípolo ao lado de Haddad e
Simone Tebet.
Para 2025 uma nova situação deve se
abrir, pois após a reunião do CMN de junho de 2023 foi anunciado que a meta da
inflação deixará de ser aferida pelo ano calendário de janeiro a dezembro para
ser contínua com referencial de 24 meses. A mudança entra em vigor a partir
deste mês com intervalo de tolerância de 1,5%. Só está faltando uma primeira
reunião do conselho com a presença de Galípolo para alterar a meta
inflacionária e dessa forma desafogar o custo da moeda. Proposição essa que,
inclusive, já foi motivo de declaração do presidente da república. É simples o
resumo: reunir o CMN para alterar a meta da inflação e derrubar a taxa Selic na
próxima reunião do Copom.